sábado, 19 de maio de 2012

Gilles de Rais

Perguntei a ela quem era Gilles de Rais, e ela me disse:
- É uma boa história para se contar. Gilles de Rais foi um militar francês que lutou na Guerra dos Cem Anos contra os ingleses, era um nobre e considerado um herói de guerra, duro, orgulhoso e muito corajoso. De Rais ficou mexido quando conheceu uma mulher que acabaria ficando muito mais célebre que ele, Jeanne D’Arc.
- Bem, essa eu sei quem é, todos sabem.
- Sim, sabe. Gilles se apaixonou por Jeanne e lutou ao lado dela por um tempo, ele entrou em completo desespero quando ela morreu, queimada pela Igreja Católica dos ingleses, seus inimigos. A morte dela foi a morte do amor e de toda a humanidade para o marechal, encerrou sua carreira militar e se tornou cada dia mais sombrio. O caminho que seguiu foi o mais obscuro que poderia, buscou uma forma distorcida e doentia de alquimia e magia, louco, acreditou os que poderia invocar um demônio e usá-lo para realizar todos os seus desejos. A dor da perda tornou seus desejos terríveis e monstruosos, era um pedófilo, um depravado necrófilo e sodomita, começou a sequestrar crianças, abusá-las , torturá-las, e mata-las... não quero dizer o que ele fazia com os cadáveres, imagine a pior possibilidade e terá imaginado o que ele fazia, e não estou falando de mera necrofilia comum, essa não é a pioro possibilidade. Ele oferecia as vidas e os pedaços das crianças ao demônio Barron, tinha tal fé nesse demônio abominável que o ajudaria a realizar todos os seus desejos e preencher o vazio que Jeanne deixou-lhe no coração, que Barron criou vida como um demônio de verdade, criado pelo pensamento perverso de um homem diabólico.  Gilles sentia prazer sexual com a dor das crianças e o cheiro deles queimando, os pendurava ainda vivos em ganchos de açougue e os provocava mutilações do pior tipo, sua vilania não poderia criar um demônio pequeno ou comum, criou um demônio cruel e poderoso, com inteligência considerável e consciência completa. Esse louco foi descoberto e queimado pela Igreja Católica da França, ironicamente Gilles teve o mesmo destino de sua amada Jeanne, mais irônico ainda é que Jeanne morreu como uma bruxa excomungada, condenada espiritualmente pela Igreja, já Gilles foi perdoado pelos seus pecados e foi absolvido por “Deus” antes da morte, assim ele foi queimado, mas supostamente sua alma iria para o Céu. A Igreja é realmente ridícula, não é? Todo a bravura que ele tinha para lutar pela sua pátria se transformou em uma crueldade extrema, um nível de sadismo que mesmo o vil mundo material veria poucas vezes em sua desafortunada história.
- É sim. E depois da morte dele? – Eu ouvia com interesse e espanto.
- Barron, como um demônio poderoso e insano levou Gilles ao Círculo do Sadismo, e lá viveram como dois torturadores por vários anos, depois se separaram, Gilles continuou lá e Barron foi para a Cidade dos Criminosos. Por pior que o espírito artificial fosse, ele tinha amizade e respeito pelo seu criador. O que aconteceu depois? Nem sei.

A Condessa (A puta de Paris)

Psicografei esse texto a partir do poder do grande Marquês de Sade, que me ofereceu sua forte libertinagem para pregar contra todo o amor e romantismo:


A condessa Jeanne Montmorency era a mais devassa dama de Paris, casada com o fiel conde Gilles Montmorency. Essa linda jovem de rara beleza havia sido, em sua infância, uma reles serviçal em casa do falecido conde Montmorency, pai do senhor Gilles, a pequena flor não se conformava em viver em meio a todo aquele luxo sem ter acesso a mais do que alguns pedaços de pão diariamente. Teve a ideia de seduzir o filho do senhor, que a tratava com mais gentileza que todos os outros membros da casa, a condessa Liane e seu irmão, o barão de Orleans. Gilles tinha nove anos e Jeanne dez quando o golpe de mestre da plebeia o capturou, ela o atraiu para brincar nos jardins, e lá tocou o seu corpo no do garoto até levá-lo aos mais devassos atos a dois. Os dois tiveram o romance secreto de Romeu e Julieta, os pais de Gilles nunca aceitariam que aquela linda empregada recebesse o nome nobre dos Montmorency. Jeanne bem o sabia, e cegou seu amante com tal paixão que o convenceu a ajudá-la no assassinato de seus próprios pais, ele não hesitou em aceitar, deslumbrado de amor, paixão e principalmente tesão, nada poderia ser mais intenso na vida do que o prazer entre as coxas de Jeanne, seu sexo intenso e ardente, escravizador e violento em cada parte. Ela tinha o dom da sedução de forma inata, a libertinagem corria em suas veias de pobre destinada ao sucesso. O assassinato foi frio e violento, à moda dos ávidos por herança, Gilles distraiu os pais enquanto Jeanne colocava veneno na bebida deles, assim que o conde e a condessa estavam mortos, o casal tratou de colocar a culpa no barão de Orleans, que foi preso e condenado à guilhotina.
Gilles foi nomeado conde e recebeu uma gorda herança, casou-se imediatamente com Jeanne, que iniciou a sua carreira de libertinagem. O que o ingênuo marido não sabia era que desde seus doze anos, Jeanne se prostituía e vendia o delicioso corpo por dinheiro, juntou uma quantia considerável com essa profissão secreta, quantia que escondia com maestria, maestria comparável ao seu apetite sexual incontrolável. Não parou de enganar Gilles após o casamento, apenas passou a se prostituir com maior frequência, ela ia ao bordel da cidade e lá fodia com todos os homens que estivesse dispostos a pagar um preço quase simbólico, só assim podia satisfazer seu tesão. Quando a condessa desejava um prazer mais intenso com homens mais belos e jovens do aqueles que encontrava no bordel, contratava seus próprios rapazes para que a satisfizessem, tinha preferência pelos de catorze anos, uma idade em que a sexualidade desabrocha intensamente, mas que mantém alguns dos traços mais atraentes da infância.
 Convém antes, descrever a estrutura física dessa flor venenosa chamada Jeanne: Não existe, em Paris, mulheres com seios mais duros e redondos, grandes de bicos rosados de extrema beleza; não existe em toda a França uma única mulher que tenha mais sedoso cabelos castanhos, que em cachos mostram o caminho descendente que aponta até o prazer, próximo das nádegas de tão longo; e que nádegas poderiam ser comparadas ao divino traseiro que a Condessa possui? Descrevo também suas coxas roliças e grossas que apontam no templo de Vênus já muito frequentado que Jeanne guarda em si, com poucos pelos escuros e lábios rosados carnudos que parecem chamar visitantes, atraindo-os para a perdição no maior de todos os prazeres.
Gilles era um tolo, um tolo cego diante da beleza de sua Jeanne, ela vivia com os maiores luxos disponíveis na capital e esbanjava o dinheiro do rico marido, o único preço era que o encantasse a cada noite com seus encantos femininos, com o fogo incontrolável que acendia a cada movimento das coxas, lábios e nádegas. Jeanne engravidou e teve uma filha, certamente não de Gilles, um dia, quando a belíssima Sophie tinha apenas oito anos, lhe ensinou:
As putas são as mulheres mais fortes da cadeia alimentar,  que outro gênero tem maior potencial para subir na escada da vida usando seus amantes como degrau? Mas falo da legítima puta superior, aquela que é capaz de render qualquer homem a seus pés, aquela que nunca se apaixona, aquela que sabe que só os tolos têm sentimentos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A VIDA E MORTE DA DEUSA NYX

Na região que hoje chamamos de Hélade, entre as primeiras tribos que dariam origem a Atenas, havia um casal de agricultores muito humildes, mas que viviam em condições muito dignas, tendo o bastante para se alimentar bem e viver de forma decente, ainda que tivessem que trabalhar duro na sua pequena propriedade de subsistência. A mulher ficou grávida quando já estava próxima de alcançar a menopausa, a notícia alegrou tanto o marido que ele matou sua melhor ovelha e fez um banquete que, para pessoas humildes como eles, chegava a ser suntuoso, convidaram todos os amigos que puderam e comeram em comemoração à criança que estava para nascer. A criança nasceu prematura com oito meses e a mãe lamentavelmente morreu durante o parto, que foi feito por uma famosa e respeitada parteira da aldeia, que no entanto não conseguira evitar o sangramento exagerado e inesperado da mulher. O pai chorou muito pela perda da mulher e jurou que cuidaria muito bem da criança, que foi batizada apenas poucas horas após o parto, Nyx seria seu nome. Nyx cresceu rápido, fisicamente mentalmente, com seis anos já sabia cozinhar e costurar perfeitamente, sempre ajudava o pai na plantação e também comia bastante em todas refeições. Era uma menina alta e vistosa, seus cabelos negros sempre cresciam muito rápido e no geral chegavam até próximo do bumbum, ondulados e brilhantes por natureza, combinando perfeitamente com os olhos ainda mais escuros, tinha um nariz um pouco grande, mas não havia uma só pessoa que não dissesse que ele ficava perfeito naquele rosto agudo que ela tinha. Ela se tornava cada vez mais o orgulho de seu pai a cada dia que se passava, era linda, prestativa, inteligente, obediente, todos os vizinhos gostavam dela, costumavam chamá-la carinhosamente de “Princesinha da Noite” por causa dos seus olhos negros que eram os mais profundos de toda a aldeia, e que pareciam de fato um pedaço do céu quando era noite sem estrelas ou outros astros que definem os destino dos homens na terra.
Com dez anos, já sabia fazer cerâmica perfeitamente, conhecia as técnicas de irrigação, conseguia andar à cavalo mesmo nos cavalos mais arredios, era um prodígio em qualquer atividade que tomasse à mão, sempre sorridente, sempre satisfeita, um primor de menina; no entanto seu maior talento se mostrava na arte, gostava de brincar com lama e barro quando não tinha o que fazer, um dia um proprietário vizinho a viu moldando uma ovelhinha com terra úmida e lhe disse que aquela brincadeira parecia muito promissora e que a menina podia ser uma ótima escultora. Depois do pai ficar sabendo do possível talento da filha, apoiou-a nessas atividades, primeiro pediu que Nyx fizesse uma escultura qualquer com uma porção de argila que ele deu. Deixou-a só para concluir o trabalho e voltou poucas horas depois, a criança tinha esculpido a si mesma, não era uma escultura renascentista, não era a obra de um Michelangelo e nem de um Rodin, no entanto era uma figura humana com proporções quase fiéis, e em que os traços dela podiam ser facilmente distinguidos, ainda que de forma um tanto caricata, uma estatueta de um palmo de altura e feita em duas horas. O pai ficou animado, Nyx poderia conseguir trocar seus trabalhos de arte por produtos com outros aldeões, não havia dinheiro naquele lugar, mas as pessoas naturalmente faziam trocas de excedentes como em qualquer lugar em não se encontra moeda. A jovenzinha gostava além de brincar de esculpir nos seus tempos livres, que não eram nem escassos e nem abundantes, de brincar com as outras crianças, era bem sociável e gostava de correr atrás dos outros e fazer todos aqueles tipos de brincadeiras bobas porém sinceramente alegres que as crianças gostam de fazer entre si. Tinha muitos amigos e muitos admiradores desde pequena, teve seu primeiro beijo com oito anos com um rapazinho órfão que trabalhava para um agricultor que abundava mais de propriedades que seu pai, sabia que pelo menos oito meninos da tribo eram apaixonados por ela, e, por isso, começava a criar em si mesma um certo orgulho, gostava de si mesma. Ela e seu pai conseguiram mais terras com o passar dos meses, seu pai conseguiu trocar seus trabalhos de artesanato com gente de outras aldeias, ele começava a se aproveitar de práticas comerciais que não eram comuns naquele lugarzinho pacato, não deixava de ser um visionário por isso. Aos doze, Nyx já chegava na idade de se casar, seu pai, nada severo e muito liberal, permitiu que ela escolhesse com quem se casaria. Foram pelo menos trinta candidatos à pequena terra deles, entre os pretendentes havia homens de todas as idades, desde oito, até oitenta anos, literalmente. Cada um se apresentou de forma respeitosa e formal diante da menina, explicando as origens familiares, a ocupação, os feitos, os bens e as intenções. Nyx se interessou por um rapaz de vinte anos que era filho de um proprietário um pouco mais rico que seu pai, esse rapaz era baixo para sua idade, bem encorpado, com cabelos loiros e cacheados, trabalhava na fazenda do pai e dizia ser um exímio cavaleiro. É difícil dizer se escolheu aquele rapaz, chamado Hércules, por causa da aparência ou das outras qualidades, é mais possível que tenha sido pela primeira opção, mas está é uma dúvida que nem Nyx poderia responder completamente consciente da sua resposta. Talvez também tenha sido pela forma como Hércules a olhava, seus olhos ardiam com um desejo intenso como se estivessem prestes a explodir, se ele explodisse, se jogaria nos braços dela e diria coisas de amor, não só naquele momento, mas nos poucos encontros que tiveram antes. Hércules era um dos habitantes que menos contato havia tido com Nyx, pois seu pai era severo e não lhe deixava quase nenhum tempo livre, ele não a conhecia bem, mas muitas vezes a observara de longe enquanto os dois trabalhavam, cada um do seu lado, de uma terra a outra havia considerável distância, contudo podiam ver a silhueta reduzida um do outro, às vezes. Chegaram antes a se encontrar algumas vezes em comemorações e eventos comunitários, então conversavam timidamente e trocavam olhares inocentes, desde sempre havia existido simpatia de um para o outro, Hércules era um pouco tímido, e mesmo que Nyx fosse muito mais nova que ele, era ela quem tinha a iniciativa e puxava assunto.
Se casaram apenas duas semanas depois e se lançaram à noite de núpcias, inflamada, apaixonada e ardente; enquanto eles enlouqueciam sobre a cama primitiva em que trocavam as mais lascivas carícias e contatos, os pais negociavam de serem sócios.
Nyx foi morar na casa do pai de Hércules, visitava o pai todos os dias, eram quase vizinhos mesmo, não havia desculpa para não fazê-lo. Daqueles doze anos até sua formação como adulta, Nyx cresceu de forma acelerada e alcançou uma surpreendente exuberância física, não era simplesmente bonita, pois não era tão incrivelmente bela no sentido literal da palavra, sua exuberância se tratava mais de uma espécie de imponência das formas perfeitamente equilibradas que se distribuíam por seu enorme corpo e principalmente por seus olhos noturnos, um tanto grandes, que fascinavam com um incomum mistério qualquer um que os fitasse mesmo que por um único instante. Além disso, Nyx parecia incansável, com o passar das décadas pode-se constatar que ela, além de manter sempre uma juventude admirável em suas feições, nunca nem engordava nem emagrecia, mantendo sempre o seu corpo esbelto. De fato, mesmo aos quarenta anos ainda parecia ter vinte e cinto, com suas formas sempre elevadas e rígidas, saudável como uma rocha, tinha tudo que se poderia pedir aos deuses.
No entanto, mesmo que Nyx parecesse ser perfeita em todos os sentido, havia algo que ela desejava mais do que tudo, um segredo que nunca havia escondido de ninguém e deixava sua alma ávida desde sua infância: queria ser mãe. Um filho era o que mais desejava, era fiel e queria que seu forte Hércules lhe desse um fruto, uma continuação de sua linhagem, ela tinha muita estima por si mesma e não podia aceitar que sua existência se apagasse de vez após a morte, não, queria um descendente. Mas todos esses esforços do casal foram em vã, em dezoito anos de casada, Nyx não engravidou, mesmo tento apelado tantas vezes em orações à Grande Deusa Gaia e ter mesmo realizado várias mandingas e simpatias primordiais que evocariam a fertilidade. Já desesperada chegou à conclusão de que a culpa era toda de Hércules, que ele era incompetente demais para conseguir dá-la uma criança, isso fez com que começasse a antipatizar com o marido, até odiá-lo, então passou a traí-lo com toda a frequência, acreditando que assim conseguiria que outro lhe engravidasse. Cinco anos de libertinagem bem debaixo do nariz do marido, ela era discreta, ele era um sonso e confiava cegamente na esposa, o próprio Hércules se sentia muito frustrado por não ter nenhum descendente, mas não podia imaginar as consequência de revolta que o mesmo mal causava a sua esposa. Nada de filho, Nyx então terminou de se desesperar chegando à conclusão de ela era estéril e incapaz de gerar um filho, essa conclusão parecia completamente lógica e verdadeira, especialmente quando se lembrava da dificuldade com a qual havia sido ela mesma concebida. Toda a inteligência excepcional, a beleza, a saúde, o talento artístico e a riqueza das duas famílias unidas que cada vez mais, de forma muito acelerada, crescia com a excelente administração de Hércules(que já estava à frente dos negócios, e o apoio dela, que inegavelmente era uma mulher formidável), tudo isso parecia não ter nenhum valor a ela, absolutamente nada. Teria trocado todas essas graças por um rebento, uma criança que saísse de seu ventre, mesmo que fosse coxo, mirrado, imbecil, ainda assim valeria mais para Nyx do que todo o resto, ela não suportava olhar tantas mulheres que andavam com seus filhos, amamentavam, pais que ensinavam suas crianças a trabalhar, era uma pena terrível ver. Cada pequeno que passava diante de seus olhos, mesmo que de longe, era um visão insuportável e odiosa, despertava-lhe as piores emoções e tornava sua vida amarga e infeliz, sentia inveja, uma inveja insuportável de todos. Observava como até as mulheres mais pobres, mais estúpidas e feias tinham seus menininhos e menininhas, todas aquelas que lhe pareciam dignas talvez até mesmo de desprezo, absolutamente todas tinham filhos, as velhas horrorosas, as mães solteiras, sem exceções. Então... Então por que ela, que era melhor que qualquer uma daquelas fracassadas, não podia ter seu filho? Por que logo ela, Nyx, que tinha um sangue muito mais altivo e nobre que qualquer outras, cujas qualidades fariam a melhor diferença na terra, por que logo ela era seca como a terra de um deserto do Egito? Por que? Essa ideia a mergulhava em um mar horrendo de rancor e inveja, seu olhar se tornou uma praga, pois não podia deixar de olhar um rapazinho sem pensar: “Que ele morra, que a mãe dele sofra por não ter nenhum pedacinho seu deixado no mundo”.
Essa inveja corroeu sua alma, aquela menina alegre, doce, simpática e muito amável foi se transformando em uma invejosa recalcada, que desejava mal a todos, infeliz, grossa, antipática e... estéril de bons sentimentos. Essa transformação infeliz não aconteceu de um dia para o outro, mas através dos anos, até antes de completar trinta anos, Nyx ainda era feliz e uma boa pessoa, ainda que ficasse magoada por não ter ainda um filho, ainda era querida por todos e mantinha o apelido carinho de Princesinha da Noite. Quando a esperança foi se desvanecendo, a infelicidade a inveja foram envenenando-a de forma mais acelerada e vil, até que com a certeza da esterilidade, tudo que havia de bom em seu coração foi enterrado junto com a esperança de uma criança.
Em manto de frustração dedicou sua vida a partir dos trinta e cinco a estudar as propriedades das ervas que podia encontrar na natureza, se tornou uma espécie de bruxa, não, de fato se tornou uma bruxa. Primeiro buscou conhecer curas através das ervas e das poções, tentou criar uma cura para a própria esterilidade, como falhou, voltou ao caminho ao qual a inveja lhe conduzia. O que é a inveja se não o sentimento de, ou ter a alegria que os outros tem, ou impor seu sofrimento a eles? Sabendo que não poderia afinal ter o bem que cobiçava e que suas vizinhas tinham, um filho, então se viu obrigada a seguir definitivamente a segunda opção, tendo seu maior prazer no sofrimento dos outros, em vê-los reduzidos à mesma miséria em que ela se encontrava. Não se contentou em desejar o mal, seguiu a carreira de bruxa com muito empenho e descobriu como criar venenos e entorpecentes muito eficazes. Não conseguia, por mais inteligente e perspicaz que fosse, descobrir a cura da sua esterilidade (e deve-se admitir que seria admirável que conseguisse levando em conta que Nyx vivia antes do século X a.C), no entanto os seus venenos e poções más eram perfeitas, testava os venenos em pequenos animais, galinhas e coelhos. Quando achou ter criado um mais forte, testou-o uma ovelha da propriedade do marido, o bicho morreu em poucos minutos, e Nyx, ainda não contente, tratou de oferecer a carne da ovelha para uma jovem da aldeia que atualmente estava grávida, dizendo que era um presente em homenagem à agraciada gravidez. E todos pensavam que as pesquisas de Nyx, suas idas à floresta, seu recolhimento solitário e misterioso no celeiro que fazia de liberdade eram no intuito de descobrir de remédios naturais, o que não era de todo mentira, já que ela havia realmente descoberto poções entorpecentes para dor e outras que combatiam o sintoma da febre e constipação. Por seus estranhos costumes e a grosseria que passou a levar nos lábios a todo momento, seu nome de Princesinha da Noite não demorou para se transformar em Bruxa da Noite. A grávida, seu marido e o primogênito adoeceram após comer a carne da ovelha envenenada, morreram algumas noites depois sofrendo com muita febre; Nyx recebeu a notícia e se fez de muito triste, enquanto por dentro sorria e gargalhava de felicidade, a sua fórmula mortal funcionava bem mesmo em pequenas doses distribuídas na carne de um animal.
Nyx praticamente enlouqueceu, a frustração e a inveja destruíram toda a sua sanidade e o seu equilíbrio mental; à noite saiu escondida pela aldeia, envenenava os animais, as plantações, distribuía a sua toxina por toda a parte, tornou-se uma secreta semeadora de morte e doença, fazia esse trabalho mau com o mais completo cuidado e silêncio, sem ser percebida, deslizando como uma sombra na escuridão. Naturalmente, as pessoas começaram a ficar doentes na tribo de Nyx, um surto terrível de febres terríveis que terminavam em morte assolou aquele povo, que ficou assombrado e queimou muitos animais em sacrifício à deusa Gaia, acreditando que talvez aquilo fosse uma praga por terem deixado a fé um tanto de lado. A moléstia continuou se espalhando, muitos morriam, outros ficavam gravemente enfermos e chegavam perto de perderem a vida, alguns de menos azar apenas passavam mal, vomitavam, ficavam um pouco febris. O desespero corria solto naquela vila, o que os habitantes começaram a perceber de estranho é que só havia duas famílias que não haviam sido atingidas pela misteriosa epidemia, essas eram a família de Nyx e a de Hércules. Com tal observação, chegaram à conclusão de que um dos membros dessa famílias seria o causador da epidemia, não tiveram que pensar muito para perceber que só a Bruxa seria capaz de criar algo assim. O fato é que naqueles dias terríveis de tragédia e miséria, ela era a única em toda a comunidade que parecia sempre bem-humorada, feliz, rindo pelos cantos, ela não podia conter a felicidade que sentia em ver a desgraça que se abatia sobre todos de quem tinha inveja, já sequer precisava sentir inveja, os filhos das outras morriam junto com suas mães e suas famílias inteiras. Os sorrisinhos pelos cantos de Nyx não deixaram que houvesse outra suspeita de culpa. Uma multidão foi até sua casa e exigiu que ela se explicasse, Nyx teve a chance de negar, mas a desconsideração que tinha pela sua própria vida infeliz e o prazer que sentia em ver o desgosto e o sofrimento daquelas pessoas havia sido tão grande que admitiu seu crime às gargalhadas. Hércules ficou horrorizado ao descobrir e não se opôs quando condenaram Nyx a beber do próprio veneno (não sem antes ser violentamente linchada pela multidão, mas não até a morte). Ela bebeu rindo, e suas últimas palavras quando já agonizava foram:
- Que vocês todos vivam, mas que vivam vidas tão infelizes e miseráveis que sejam forçados a invejar os mortos, eu estarei morta, invejem-me, desgraçados.
E morreu.
Do outro lado da vida tudo era diferente, era sua primeira vida e morte, não conhecia nada do lugar onde foi atirada, sua esclera branca agora era amarela e formava uma combinação assombrosa com a pupila negra. Era o Abismo dos Condenados, o local onde os espíritos condenados pelos próprios maus sentimentos, fraqueza e ignorância acabam, Nyx se arrastava naquele mar de gente caída, sentia-se fraca e angustiada, como se ainda sentisse a dor do veneno destruindo o seu organismo. Se desesperou completamente, não tinha fé na vida após a morte desde que se tornara amarga em seu infeliz coração não-materno. Ficou se arrastando por um tempo, completamente confusa, a dor sumia aos poucos e era substituída por um tormento novo, era uma tristeza profunda que dilacerava sua alma completamente, gelava-a com os piores sentimentos que podem prover da felicidade, era uma tristeza que a esfriava por dentro e fazia com que se sentisse a mais desafortunada entre todos aqueles miseráveis que encontravam naquele abominável abismo. Não podia explicar sua tristeza, não era como quando estava viva, não sofria por inveja dos outros, ao contrário, tinha inveja dos outros por ver que por maior que o sofrimento deles fosse grande, não podia se comparar ao dela. Nyx não sentia nada além daquela tristeza, nem alegria, nem medo, nem raiva, aquele era o sentimento inerente a ela. Porém, o sentimento de inveja já era inerente a Nyx desde sua vida, não era diferente agora, tudo que ela queria era dividir aquela angústia com os outros espíritos que se encontravam com ela, por isso ela lançou um braço de energia de seu corpo e puxou para si um infeliz que se encontrava colado nela, ele foi absorvido pelo seu corpo como o pó que se dissolve na água. Foi nesse instante que Nyx percebeu sua habilidade, sentiu um prazer imenso com aquele ato, ficando um pouco aliviada da sua tristeza. Repetiu o processo com mais vinte e poucos condenados e já sentiu que a tristeza sumia completamente, não se sentia mal, se sentia poderosa e como se não tivesse nada a invejar, como se fosse a mais feliz das criaturas. A cada espírito que absorvia, se sentia mais forte e segura de si, não à toa, pois os poderes de cada um de suas vítimas se tornavam seus, ela devorava suas forças e sua energia.
Se teletransportou de lá, estava aprendendo fácil a viver no mundo dos mortos. Foi parar em um local conhecido como Rochosa Aldeia, já não mais existente nos dias de hoje. O motivo: Nyx viu lá os espíritos felizes, diferentemente dos do Abismo, isso provocou em seu coração novamente aquela tristeza devastadora de antes, e, invejando a felicidade dos habitantes da aldeia, ela massacrou um a um com seu poder. Já tinha consciência do que acontecia quando fazia aquelas absorções, sabia que as presas se tornavam parte dela e suas habilidades, conhecimentos e um pouco de suas emoções também passavam a ser dela, porém a vida e a consciência deles desaparecia realmente além do véu eterno da morte, tendo apenas seus atributos preservados. Testou suas novas armas recém-adquiridas, viu que já podia atirar fogo, controlar a terra, criar miragens simples; ficou muito feliz e foi para outro lugar. O processo se repetiu, Nyx varreu muitas cidadezinhas do mapa, pois cada vez que via uma pessoa feliz, sentia inveja, e então a absorvia, cobiçando absorver aquela felicidade para si mesmo. De fato, funcionava, mas era só ver outra que de novo a inveja e a tristeza a tomavam novamente por assalto, assim ela cobiçava toda a felicidade do mundo e não aceitava que ninguém mais estivesse bem além dela, essa cobiça doentia causou muitas centenas de mortes. Além de invejar a felicidade, ela também invejava quando via outros espíritos mais fortes que ela, como isso até aquele momento não tinha acontecido, por ela ser extremamente forte, ainda não sabia disso, porém descobriu quando foi até o Círculo da Luxúria, foi lá que tudo mudou. Felicidade e força, tudo que Nyx cobiçava para si, apenas duas coisas, mas que ela desejava infinitamente e de forma insatisfazível
No Círculo da Luxúria, viu a felicidade nos olhos daqueles que entregavam à prática que dá nome ao círculo, estavam tão excitados, tão cheios de prazer, ver tanta gente tão bem a deixou tão triste quanto nunca estivera, nem no Abismo dos Condenados, então atirou-se à caçada, absorvendo um a um para satisfazer sua inveja e ficar bem. Sabendo da catastrófica invasão, Lilith, a deusa da luxúria e do prazer, rainha da carne e da escuridão, mestra suprema na arte de se utilizar o corpo para as delícias do sexo, foi até a intrusa. Quando Nyx viu Lilith, viu tanto poder nela que sentiu inveja e desejou absorvê-la a qualquer custo, Lilith porém lançou sobre ela um encantamento, e Nyx, devagar, se acalmou.
- O que você fez? – Nyx perguntou, respirando aceleradamente.
- Te libertei. Sente inveja, não é? Bem, você matou muitos dos meus cidadãos, mas mesmo assim, se quiser, eu posso te ensinar a controlar esse sentimento desprezível e alcançar uma vida de prazer e satisfação aqui no Círculo da Luxúria. Você nunca mais se sentirá mal quando ver alguém feliz, nunca mais vai precisar roubar e cobiçar os bens dos outros, nunca mais. Meu nome é Lilith, e o seu?
- Sou Nyx. – Falou timidamente e fascinada com o poder daquela deusa tão linda, cuja aparência divina não pode ser descrita de forma justa por nenhum escritor nem que ele tenha todo o vocabulário conhecido pela humanidade.
- Daqui em diante você é Nyx, a Deusa da Noite, assim como a noite cobre o céu iluminado pelo Sol, você e sua inveja, que transborda em cada poro de seu corpo, cobrem a felicidade da humanidade e espalham sofrimento pelo mundo. Sua cobiça sumirá, mas seu título não poderá ser outro, Deusa da Noite, o que você já fez já está feito e não pode ser mudado.
- Entendido, só me fale o que devo fazer, é horrível, eu sofro demais invejando os outros, você não imaginaria o quanto! – Nyx falou quase chorando, se apercebendo do quanto era e fora infeliz.
- Oh, não chore. A noite tem suas estrelas que brilham e iluminam a terra, você terá sua própria luz, será feliz e não precisará mais querer nada dos outros. Não me conte nada, eu sei de tudo, leio sua alma como se lê um livro aberto, conheço cada um dos seus sentimentos, cada trauma e cada tristeza, te conheço profundamente mesmo antes de te conhecer, esse é o meu poder, confie em mim e te mostrarei o caminho.
- Confiarei.